quarta-feira, 20 de abril de 2016

Sete Dias de Tortura - 2 de 7


Olá, fico feliz que você tenha voltado para conhecer um pouco mais do que foi a tortura na época da ditadura. Esse é o segundo texto de um total de 7. Será um por dia. Desta vez trarei a imagem de algumas crianças, pode-se ver que nas fotos delas está o carimbo do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão cujo objetivo era assegurar e disciplinar a ordem no país. Como se pode ver, essas crianças são bastante perigosas.

Vamos a alguns relatos envolvendo somente crianças e um jovem de 15 anos, preso injustamente:

“Lá estava a minha filha de um ano e dez meses, só de fralda, no frio. Eles a colocaram na minha frente, gritando, chorando, e ameaçavam dar choque nela. O torturador era o Mangabeira [codinome do escrivão de polícia de nome Lourival Gaeta] e, junto dele, tinha uma criança de três anos que ele dizia ser sua filha.” (Eleonora Menicucci de Oliveira)

“Humilhavam, molhavam o colchão para os meninos não deitarem. Não, era uma coisa. Esse daqui [Adilson] foi levado não sei quantas vezes pela polícia, surravam ele, socavam meu filho, com nove anos. A polícia! A polícia de Atibaia surrava meu filho. O menino não tem nada a ver com isso. Olha, gente, foi... foi um momento muito difícil pra mim, ver meus filhos serem massacrados. Eu sabia, eu sabia que eles iam massacrar meus filhos para eles falarem”. (Damaris Lucena, narrando a violência feita aos filhos dela)

“Tive os meus filhos sequestrados e levados para sala de tortura, na Operação Bandeirante. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra pegou nas mãos de meus dois filhos – Edson Teles, à época com 5 anos, e Janaina, com 4 – e os levou até a sala onde eu estava. (...) Inclusive, eu sofri uma violência, ou várias violências sexuais (...) E os meus filhos me viram dessa forma. Eu urinada, com fezes. Enfim, o meu filho chegou para mim e disse: ‘Mãe, por que você ficou azul e o pai ficou verde?’. O pai estava saindo do estado de coma e eu estava azul de tanto... Aí que eu me dei conta: de tantos hematomas no corpo”. (Maria Amélia de Almeida Teles)

“Quando acordei, estava amarrado de mãos e pés e lançado ao piso de uma cela com grades... A cela foi aberta e os dois homens entraram. Continuaram a me chamar de comunistinha e outras palavras que não recordo muito bem... Consegui pôr-me em pé ao mesmo tempo em que um dos homens sacava de uma faca de campanha, de descamar peixes, que ele tinha numa bainha presa à sua perna. Ele desferiu dois golpes direcionados ao meu peito e por duas vezes levantei os joelhos, sendo esfaqueado uma vez na coxa direita, do lado externo, logo acima do joelho e outra vez na coxa esquerda, do lado interno da perna, quase na mesma posição. Com as duas pernas e a mão direita feridas, deixei de reagir, perdendo parcialmente os sentidos. Depois de algum tempo, percebi que estava algemado e tentavam me colocar dependurado pela boca, numa espécie de cabide preso à parede... Fui dependurado pelos dentes naquele cabide imundo e minha cabeça ficou enlaçada a duas argolas presas à parede, através de uma cinta de velcro. Lutei muito para me manter lúcido, pois, se desmaiasse, morreria afogado na própria saliva e sangue que brotavam dos ferimentos da boca. Não sei quanto tempo fiquei naquela posição, se minutos ou horas, pois perdi a noção do tempo... Quando acordei, estava em uma enfermaria típica de quartel, anos depois fiquei sabendo – quando fui prestar serviço militar. Tubos ligados a bulbos de soro se infiltravam em meus antebraços. Minhas feridas começavam a cicatrizar e eu imaginava qual teria sido meu crime, aos 15 anos de idade, para estar passando por tudo aquilo”. (Pedro Penteado do Prado, que tinha 15 anos quando foi sequestrado por engano pela polícia ao ser confundido com um simpatizante do Grupo das Onze)

Agora, meu amigo, peço que você volte e olhe novamente para a foto dessas crianças. Elas foram algumas das crianças presas na ditadura militar pelo “homem” que foi exaltado por Jair Bolsonaro dentro da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil ao vivo diante de toda a nação no último domingo. E ainda foi aplaudido por muitos de seus colegas parlamentares e muitos de seus “fãs”. Olhe para dentro de você. Você não é assim. Não é isso que você realmente defende. Pare de apoiar o babaca do Bolsonaro. O homem que venera um cruel torturador da ditadura não merece admiração de ninguém, muito menos voto.

Bônus 1: Bolsonaro nesse vídeo fala que o regime militar era uma maravilha, mente sobre a condição econômica do Brasil e diz que o regime militar era democrático: Veja aqui

Bônus 2: Bolsonaro chama de tortura de tratamento enérgico: Veja aqui

Bônus 3: Bolsonaro diz que uma ministra não pode falar abertamente que tem orgulho de ter filha gay. Profere dezenas de absurdos seguidos sobre homossexualidade. Tema em que mostra o mais profundo desconhecimento. Mente sobre dizer que será ensinado educação sexual para crianças de 6 anos. Diz que o erro da ditadura foi torturar e não matar. Diz que tortura não era política de Estado. Apenas aconteceu um fato ou outro. Faltou só ele falar a verdade aí, e também descrever como eram as torturas, inclusive falar das crianças torturadas por Brilhante Ustra, homenageado por ele: Veja aqui.

Na próxima série vamos discutir um pouco sobre a tortura contra membros que não buscavam a ditadura do proletariado, já que esse é o argumento de quem defende as torturas e seus métodos, como se todos os presos e torturados fossem defensores de ditadura. Até amanhã!

Spoiler: Lutar para derrubar o regime militar não é necessariamente defender uma ditadura. Já o regime militar era claramente uma ditadura que tentava se revestir de legitimidade, mas tomou o poder através de um golpe.

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